Wednesday, September 27, 2006
Friday, September 22, 2006
8º Destroço (E então eu disse. E depois calei-me)
(depois calei-me).
Disse todas as palavras. Uma a uma. E então eu disse
(até à náusea)
do medo. Da renúnica do desejo. Da minha pequena condição
(portátil)
Disse do que
(não)
sei de mim. E então eu disse. As palavras formando os cruzamentos. As palavras encontrando-me
(ainda)
mais pequena. E as estrelas começaram a cair
(uma a uma)
de um céu sereno. Depois calei-me. Como um triste gato à chuva. E o silêncio que então houve
(esse minúsculo silêncio)
apagou
(uma a uma)
as palavras e expulsou-me de casa
(esse silêncio, que diminui)
como um triste gato surdo. Mas mais pequena
(faltam-me centímetros).
E ninguém me perguntou onde vamos? E ninguém me ofereceu um guarda-chuva
(sobra-me silêncio)
e ninguém olhou para trás e eu
(tão portátil)
empurrei o vento. E as gotas caíram
(uma a uma)
como palavras pingando a solidão. E pela queda
(das estrelas)
o dia fez-se triste. E mais pequeno. E ninguém me perguntou o que fazemos?
(onde vamos?).
E eu calei-me. As palavras apagadas uma a uma
(silêncio)
as estrelas caindo uma a uma
(escuridão)
as gotas pingando uma a uma
(fim).
E eu calei-me, desafiando o infinito
(tão pequeno)
calei-me, esperando a eternidade.
Monday, September 11, 2006
7º Destroço (ou onde se devem encontrar as palavras e tirar as mãos dos bolsos)
Monday, September 04, 2006
7º Assombro (ou onde encontro um piano nos bolsos mas tenho as mãos (ainda) presas)
Caiu-me um piano nos bolsos, onde tenho as mãos metidas
(como botões cosidos às casas)
e
(silenciosamente)
sinto-o entre a inquietude e a esperança.
Li uma vez que um homem só é feliz quando constrói o seu próprio piano e inquieto-me mais
(onde porei as mãos?)
com o que agora me desembarcou nos bolsos
(serei feliz?).
Tenho um piano nos bolsos e
(ainda)
conservo neles as mãos. Apertadas para fazer lugar, ou não sei. Mas apertadas como dois
(profundíssimos)
nós que não desatam a música que parece estar prometida. E há palavras que rodeiam de esperanças a inquietude. Ditas na única língua em que todas as palavras deviam ser pronunciadas
(a música).
Caiu-me este piano nos bolsos
(a mim que não sei se sou feliz),
um estranho e tão familiar piano e tão novo que
(ainda)
permanece mudo
(entre a inquietude e a esperança)
aguardando que os nós das minhas mãos se desfaçam e aconteça qualquer coisa, cujo único propósito seja acontecer
(nada acontece).
Receio desatar as mãos. Receio a urgência de uma música imparável e por isso conservo os dedos entrelaçados
(as mãos cheias de nós como as linhas de uma vida feita à pressa)
como dias tristes
(cosidos às casas).
Não posso, pois, tirar as mãos dos bolsos nem desfazer os nós que os dedos entrelaçam. E sento-me
(ao longe a água treme)
como quem descansa, na varanda
(com um piano nos bolsos)
e lentamente aguarda o sono dos pássaros.
Não posso tirar o piano dos bolsos, nem deixar que as promessas de música se cumpram. E por isso
(bem cosida à casa)
sento-me inquieta
(a descansar)
na varanda. Como quem ouve o anúncio da noite
(sossegado)
e aguarda
(de mãos presas, ainda, nos bolsos)
que as estrelas
(ou a música)
recomecem.