12º Destroço (ou explicar borboletas a tartarugas*)
Não me apetece escrever mas grito sem fazer barulho
(para dentro ou lá o que é)
que é para ver se me ouvem ou ouvir se me vêem
(sei lá para quê).
Eu não devia escrever. Mas depois lembro-me
(escrever é também calar-se**)
e acho que concordo
(que eu nunca sei se estou ou não de acordo ou se assim-assim)
que é gritar sem barulho isto de escrever
(mesmo que seja pouco. Mesmo que seja mal).
Eu não devia escrever. Na realidade não há nada sobre o que valha a pena juntar duas letras ou mais
(fazer uma frase),
apenas alguém
(insuficiente)
a quem foi inútil explicar borboletas
(quanto mais fazer-lhe ver a importância dos terramotos que me abalam dentro).
Não é para isso que julgo que escrevo
(falar de gente com carapaça)
mas não sei, honestamente, para que escrevo hoje
(se devia estar a gritar muito calada).
Escrever sobre como
(não se pode)
explicar borboletas a tartarugas, parece-me tão inútil
(medíocre, até)
como usar brincos em orelhas pequeninas. É certo que mais valia
(sem fazer barulho)
gritar para dentro da carapaça que as pessoas põe quando são muito crescidas e responsáveis e rotineiras
(como ratos de gaiola)
e monótonas e lentas e desapaixonadas e desconfio mesmo se chegam a ser
(pessoas)
felizes como as tartarugas que seculares tudo desconhecem sobre a brevidade leve das borboletas
(como se explica isto?).
Não tenho nada sobre o que escrever. Só os terramotos e as borboletas que não sei explicar às tartarugas que por vezes aparecem
(vagarosas como sempre)
para me lembrar que detesto pessoas crescidas. E que devia pousar como quem se cala
(não escrever)
as mãos impacientes.
(para dentro ou lá o que é)
que é para ver se me ouvem ou ouvir se me vêem
(sei lá para quê).
Eu não devia escrever. Mas depois lembro-me
(escrever é também calar-se**)
e acho que concordo
(que eu nunca sei se estou ou não de acordo ou se assim-assim)
que é gritar sem barulho isto de escrever
(mesmo que seja pouco. Mesmo que seja mal).
Eu não devia escrever. Na realidade não há nada sobre o que valha a pena juntar duas letras ou mais
(fazer uma frase),
apenas alguém
(insuficiente)
a quem foi inútil explicar borboletas
(quanto mais fazer-lhe ver a importância dos terramotos que me abalam dentro).
Não é para isso que julgo que escrevo
(falar de gente com carapaça)
mas não sei, honestamente, para que escrevo hoje
(se devia estar a gritar muito calada).
Escrever sobre como
(não se pode)
explicar borboletas a tartarugas, parece-me tão inútil
(medíocre, até)
como usar brincos em orelhas pequeninas. É certo que mais valia
(sem fazer barulho)
gritar para dentro da carapaça que as pessoas põe quando são muito crescidas e responsáveis e rotineiras
(como ratos de gaiola)
e monótonas e lentas e desapaixonadas e desconfio mesmo se chegam a ser
(pessoas)
felizes como as tartarugas que seculares tudo desconhecem sobre a brevidade leve das borboletas
(como se explica isto?).
Não tenho nada sobre o que escrever. Só os terramotos e as borboletas que não sei explicar às tartarugas que por vezes aparecem
(vagarosas como sempre)
para me lembrar que detesto pessoas crescidas. E que devia pousar como quem se cala
(não escrever)
as mãos impacientes.
* Amos Oz in O Mesmo Mar, p.29
** Marguerite Duras - Écrire
11 Comments:
Como sempre, gostei.
Melly
Beijo
Melly, mas que saudades que eu já tinha das tuas visitas. Está tudo bem? Espero que sim e muito obrigada pela visita.
Beijo
Está Elisa. Actualmente, procurei-te pelas ruas de Aveiro. Mas como estava hipnotizada pelos azulejos e belas casas, pois perco contacto com a realidade, certamente até passei por ti e não dei conta...
Beijo,
Melly
Melly
Não acredito!!! Este em Portugal e não disse nada? E em Aveiro??? Hum... não sei se desculpo. Teria tido um imenso prazer em conhecê-la pessoalmente... mas bom, espero que regresse em breve. Sim?
beijo
esta tua pérola literária faz-me lembrar uma série de crónicas que escrevi sobre a condição de escrever (tu conheces, lá do "exortação"). e portanto compreendo muito bem isto que é dito. muito bem colocadas as citações, que parece não ficarem tão contextualizadas sem as tuas próprias palavras. é mais uma vez parabéns, entre uma infinitude deles. senhora do dom.
Sim, conheço... mas isto não é uma pérola, meu amigo... e eu sei que compreendes bem :-) Melhor que eu.
Beijos
ok, um diamante... desculpa!
hehehehe beijos.
um diamante... hum...
talvez as tartarugas receiem «a brevidade leve das borboletas», talvez...
anyway, gostava que não pousasses essas tuas «mãos impacientes» ;)
Hum... as mãos encontram-se desinspiradas Maria. Sem a leveza das borboletas... mais com a gravidade das tarturagas, provavelmente
:)
hum, muito bom! estou meio farta de poesia, mas a tua é refrescante! voltarei.
(ando à pesca de novos blogues interessantes para visitar, o teu fica no anzol)
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