Monday, September 11, 2006

7º Destroço (ou onde se devem encontrar as palavras e tirar as mãos dos bolsos)

Encontra as palavras
(melhor),
encontra o momento em que os dedos soltem as palavras para dizer
(exactamente assim)
como se fosse o instante único em que és
(ainda)
capaz de acreditar. Ou mudar as coisas. O nome que tens para as coisas. E que não é já suficiente.
Encontra as palavras
(anda),
as notas que te faltam nesta música que queres ouvir e
(melhor)
tocar. Encontra-as e di-las como se não pudesses voltar a dizê-las
(com certeza)
outra vez enquanto vivas. Desfaz o raio do nó que tens nos dedos
(na garganta)
e pronuncia as palavras, com as mãos abertas, como se te fosse faltar o ar
(logo a seguir),
como se, por não dizê-las, deixasses de
(ser)
respirar. Encontra
(depressa)
as palavras que devem ser ditas antes que morras de amor
(ou morte).
E di-las como se não te importasse
(mesmo)
mais nada. Como se amanhã fosse o dia último do
(teu)
mundo e tivesses de arrancar de dentro todas as vidas que tiveste e
(não)
viveste. Di-las como se fosse urgente construir terramotos sobre asas de borboletas. Dançar a última dança em cima dos gumes de todas as facas. Di-las como se fosses morrer da morte
(ou só do amor).
Encontra as palavras que há tanto tempo conservas nas mãos, enterradas nos bolsos. Aquelas palavras que sabias
(sabias)
que haveriam de ser ditas antes da escuridão. Di-las como quem cria um momento de claridade e a seguir abre as mãos todas e toca
(toca)
a essência de todas as coisas. O universo todo aqui. Agora.
Encontra essas palavras
(solta os dedos)
e di-las como se não houvesse outro sentido para a
(tua)
vida, senão dizê-las
(agora)
antes que todas as asas se transformem em silêncio. Toda a música se concentre numa única nota. Toda a vida te regresse aos bolsos e os dedos
(destroços)
se cristalizem. E morras, enfim,
(as palavras perdidas)
sem teres vivido.

10 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Gracias por ofrecernos ese hermoso blog. Me gusta abrirlo siempre para ver que nuevo presente nos trae!
Saludos
Júlio

13/9/06 3:38 PM  
Blogger Elisa said...

Júlio
Eu é que agradeço as tuas palavras e as tuas visitas.
Obrigada.
Beijos

13/9/06 5:42 PM  
Blogger magarça said...

São tantas as palavras que abafamos sem encontrar o momento oportuno para as dizer...

17/9/06 10:58 AM  
Blogger Elisa said...

É verdade, margaça. E depois... às vezes, quando as deixamos sair já é de um modo tão desajeitado ou abrupto que se perde tudo quanto se quis dizer.
Beijos

17/9/06 11:19 AM  
Anonymous Anonymous said...

Elisa,

It sounds very narcissistic, but I swear, I almost believe that you wrote these words for me...I wish I was brave and let my heart lead my path for once, instead of my mind!

Melly

18/9/06 7:07 PM  
Blogger Elisa said...

Hi Firvidas
I recently discover in the North of Portugal a small village with that same name: Firvidas. And I thought maybe you have that nickname because of it. It is so?
I didn't really wrote these words for you... but for me... or... better... about me. But you know? In the end, I am not sure if it is a good thing say everything... every word... maybe sometimes we just must keep words, feelings, whatever... for ourselves.
Thanks for our visit.
Beijo

18/9/06 7:45 PM  
Anonymous Anonymous said...

Elisa,

Yes, my nickname is indeed tied to that little village. I remember dreading the few days of vacation spent there in the summertime. At this stage of my life it is a place I long for. The irony of it is that I now love it for exactly the same reasons I hated it as a child.

I agree with you. I am sure that it is not a good thing to say everything. Try as I may, I always say to much which leads to vulnerability, but changing this "habit" is still a work in progress for me.

XOXO

19/9/06 6:27 AM  
Blogger Elisa said...

Firvidas
So.. I was right :-)I don't think that is ironic... it's a quite common thing... that 'nostalgia'. Maybe you must return to visit that little village :-)


I understand exactly what you mean, since I always talk too much and i always say what I want... hum... more often I say what I don't want. It's a kind of a dilemma to me... some tension between what I want and what I do. I am trying to be a better person. But it seems that I just can't stop repeating the same errors. Whatever.
Beijo

19/9/06 9:33 AM  
Blogger José Alexandre Ramos said...

é. libertar, deixar correr e confiar no que vai correr. agir para como corre, claro. adorei esta frase: "como se fosse urgente construir terramotos sobre asas de borboletas" Delicioso ler assim. bjs

28/9/06 6:11 AM  
Blogger Elisa said...

Agir como (quem) corre... ora disso percebo eu. Não sei bem se feliz ou infelizmente.
Mas... deliciosos são os teus comentários... :-) Obrigada.

28/9/06 9:02 AM  

Post a Comment

<< Home

eXTReMe Tracker Estou no Blog.com.pt