11º Destroço (ou ver-te e saber que te perdi)
Não sei quanto tempo passou
(sempre fizeste contas muito melhor que eu)
mas parece-me que foi muito. Antes que te pudesse ver outra vez ali naquela luz de Lisboa
(um cliché perfeito, como quase todos o são).
Antes que pudesse perceber que te perdi para sempre, da mesma maneira que fui perdendo pessoas e objectos, mesmo procurando guardá-los em caixas, dentro dos livros, em cantos da memória
(nunca me apeteceu perder nada).
Antes que pudesse perceber porque é que a luz de Lisboa, na tua pele, te tornou
(para sempre)
a única pessoa que
(agora)
eu poderia ter amado com a exacta urgência de quando era adolescente.
Não sei quanto tempo passou
(não é uma coisa importante)
antes que te pudesse ver a esta luz. Uma luz feita de água e girassóis. Irrepetível como todos os gestos perfeitos que fizemos
(antes)
e que se foram esvaziando como um balão esquecido, depois das mãos das crianças.
Tantas vezes quis tocar-te
(nesta tarde)
como antes te tocava as sobrancelhas ou o sítio onde o cabelo começa a rarear-te ou os dedos com que
(me tocavas)
pegas em tudo
(a chávena do café, o cigarro, os papéis),
menos nas minhas mãos abandonadas à sua branca solidão.
E não te toco porque não sei quanto tempo passou e como lhe fizeste as contas. Não aproximo a minha boca da tua, a esta luz de Lisboa, porque não sei contar as pequenas rugas que os teus lábios formam e fico à espera que não regresses ao tempo
(muito, parece-me)
que passaste sem que eu te visse. A desejar que não te levantes da cadeira e te afastes direito ao sol do fim do dia
(longe)
ao encontro de uma vida que eu já não vivo, de um amor que já não será o meu.
Não sei quanto tempo passou
(mas parece-me que foi muito)
antes que pudesse ver-te a esta luz e saber
(com uma assustadora exactidão)
porque escorre de mim ainda este amor
(para sempre)
perdido.
10 Comments:
Genial, como sempre! Adoro a maneira como preenches os silêncios! Beijinhos
Obrigada Ana -)
não tem que me agradecer ter gostado de mais uma triste tigre teia. apenas gostei.
Não agradeço... três tristes tigres era um banda de quem eu gostava... uma triste teia sei o que é, pois que a vou tecendo por aqui... uma triste tigre teia... será um jogo de palavras, como o nome da banda, que se repete muito depressa a ver quem se engana... talvez.
Não agradeço.
:-)
não tenho palavras....
voam para longe quando a leio Elisa....
fico só a reler...
perdida num espaço que sendo este é maior.
um beijo.
Isabel
:-)
Parece em contradição com a ana fonseca, mas não é: eu adoro como não preenches os silêncios; cada pausa, bem planeada (...?), concede-nos tempo para recuperar o fôlego. Agora não vou repetir o que tenho dito até aqui... tu já sabes. Beijos.
nada de planeamento Alexandre... rs... a nossa velha questão. Beijos.
gosto tanto de qualquer um dos seus três blogs...
Muito obrigada Sem se ver.
O meu preferido é o bebedeiras de jazz :-). Os outros são só umas coisas que se escrevem. O bebedeiras é um blog bonito, acho eu. Ou pelo menos eu, acho-o muito bonito.
Beijos
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