10º Regresso (ou o lugar onde morremos)
No lugar onde pões as coisas que te fazem falta, dizes que me guardas
(não a mim, mas ao que não escrevo)
como um tesouro antigo ou como qualquer coisa para onde olhas
(à procura de inquietação)
quando queres encontrar o que não deve ser dito
(as não palavras).
No lugar onde guardas o que de ti não queres perder, dizes que carregas
(as bombas)
o que não atiras à vida. Como os teus olhares perdidos
(para onde olhamos quando vemos?),
como os teus olhares que hão-de ser, noutros lugares que não são iguais a esse onde agoras escondes os olhos de outros
(o que vemos, quando não olhamos?).
No lugar onde te carregas escondes os meus olhos para veres o que digo quando não quero dizer nada
(nunca tenho nada para dizer),
quando não há sequer uma palavra que apague o teu próprio peso.
Dizes que guardas o meu lugar
(é onde?)
e que é o mesmo onde ainda não chegaste. E eu penso que nunca chegarás a esse pequeno sítio onde tantas vezes morri
(apenas por que não escrevi as palavras justas),
esse lugar diminuto que sou eu e não sou eu
(não existo)
porque por mais que o conheça não foi lá que me encontrei ou me perdi. Esse lugar não existe. Mas eu conheço-o
(o pânico)
como se andasse comigo onde me carrego
(aos dias).
Guardar as coisas que não são, não é suficiente para o que ainda queres ver. Guardar as coisas que os outros não têm para dizer, não traz
(o silêncio)
os gritos que escutarias se deitasses fora as bombas. Um dia, dizes, quando puderes
(voltar a não morrer)
escolherás as palavras
(justas)
para o que não tem resposta. Não chegarás a esse lugar onde imaginas que eu cheguei porque tens olhos
(e ainda queres ver)
e pernas e boca. E essas duas mãos das quais nascem os mapas com que chegarás a outros
(lugares)
dias. E
(se voltares a não morrer)
é neles que te farás explodir. Deita-me fora
(aproveita o silêncio),
eu não presto. Eu não conheço palavras justas
(eu já morri),
que possam ser guardadas como guardas as coisas que te são precisas. Não me guardes
(não há nada em mim que faça falta)
e depois escreve
(na ausência dos escombros),
porque onde deixares de escrever
(o lugar onde cheguei, sem ver)
é onde se encontra a morte para sempre.
(não a mim, mas ao que não escrevo)
como um tesouro antigo ou como qualquer coisa para onde olhas
(à procura de inquietação)
quando queres encontrar o que não deve ser dito
(as não palavras).
No lugar onde guardas o que de ti não queres perder, dizes que carregas
(as bombas)
o que não atiras à vida. Como os teus olhares perdidos
(para onde olhamos quando vemos?),
como os teus olhares que hão-de ser, noutros lugares que não são iguais a esse onde agoras escondes os olhos de outros
(o que vemos, quando não olhamos?).
No lugar onde te carregas escondes os meus olhos para veres o que digo quando não quero dizer nada
(nunca tenho nada para dizer),
quando não há sequer uma palavra que apague o teu próprio peso.
Dizes que guardas o meu lugar
(é onde?)
e que é o mesmo onde ainda não chegaste. E eu penso que nunca chegarás a esse pequeno sítio onde tantas vezes morri
(apenas por que não escrevi as palavras justas),
esse lugar diminuto que sou eu e não sou eu
(não existo)
porque por mais que o conheça não foi lá que me encontrei ou me perdi. Esse lugar não existe. Mas eu conheço-o
(o pânico)
como se andasse comigo onde me carrego
(aos dias).
Guardar as coisas que não são, não é suficiente para o que ainda queres ver. Guardar as coisas que os outros não têm para dizer, não traz
(o silêncio)
os gritos que escutarias se deitasses fora as bombas. Um dia, dizes, quando puderes
(voltar a não morrer)
escolherás as palavras
(justas)
para o que não tem resposta. Não chegarás a esse lugar onde imaginas que eu cheguei porque tens olhos
(e ainda queres ver)
e pernas e boca. E essas duas mãos das quais nascem os mapas com que chegarás a outros
(lugares)
dias. E
(se voltares a não morrer)
é neles que te farás explodir. Deita-me fora
(aproveita o silêncio),
eu não presto. Eu não conheço palavras justas
(eu já morri),
que possam ser guardadas como guardas as coisas que te são precisas. Não me guardes
(não há nada em mim que faça falta)
e depois escreve
(na ausência dos escombros),
porque onde deixares de escrever
(o lugar onde cheguei, sem ver)
é onde se encontra a morte para sempre.