Friday, August 04, 2006

7º Regresso (ou as chaves. Outra vez as chaves. E eu aqui. Outra vez. Atirando pétalas ao silêncio)

Os dias são feitos de silêncio. Podia dizer

(da tua ausência)

solidão ou flor. Mas é de silêncio que são feitos

(os dias)

os meus dedos, que embora procurem escrever-te como eras

(ontem)

quando não era necessário escrever, estão fechados. Não como quando as tuas palavras

(as chaves)

abriam flores. E geravam promessas, adiando a solidão. Agora a música alonga o silêncio e os dedos prolongam a ausencia

(para onde foste?)

das tuas mãos

(pequenas)

que alimentavam os meus cabelos. Os dias

(agora)

estão carregados de silêncios que se parecem com as chaves

(perdidas)

que abandonamos à entrada

(das casas)

dos corpos, à procura das palavras. As portas abrem-se e pousamos as chaves dentro das casas. Como quem abandona uma existência exterior e entra

(dentro)

em si mesmo. As portas fecham-se e pegamos nas chaves inertes. Como quem procura ter um corpo

(fora)

diferente onde escrever as palavras que os dedos contêm. As chaves estão pousadas ao lado do telefone

(silêncio)

e seria fácil pegar-lhe

(ontem)

para encontrar a porta fechada

(agora).

Procuro no fundo vazio da caixa do correio as pétalas daquela flor que gosto, mas de que me esqueço de pronunciar a cor

(promessas)

com a persistência dos loucos, rodando as chaves

(outra vez)

para expulsar o silêncio

(a solidão)

do corpo que trago

(de fora)

dentro. Aperto o botão do elevador. As chaves na mão

(tristemente)

penduradas dos meus dedos, como palavras escorrendo do cansaço. A porta abre-se e as promessas do átrio

(vazio)

atingem o coração das flores atiradas contra a porta da casa

(pesadamente)

fechada, que se abre depois para anunciar descansos. Podia dizer da tua ausência. Mas apanho as pétalas

(amarelas)

do tapete e pouso

(outra vez)

as chaves ao lado do silêncio.
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