6º Regresso (ou os dias perfeitos. O cheiro das camélias. Uma banheira. A água. Os cabelos. Ou o verão, ainda)
Gosto de te ver deitado de costas. Completamente deitado de costas. Nu
(numa nudez única e líquida)
numa maciez dispensada do tacto. Gosto de te ver
(deitado de costas)
o pescoço, onde os dias são perfeitos, o mundo a começar onde os teus cabelos nascem, as tuas nádegas desenhadas como na água, nos lençois
(o verão, ainda).
O cheiro das camélias, se é de noite, a encher-te as costas. As plantas dos teus pés, sossegadas, como raízes. A música a desprender-se da curva da tua cintura. As mãos assentes debaixo da cabeça e os teus dedos, compridos como pequenas árvores
(a sombra das tuas pestanas a espalhar-se como o cheiro das camélias).
Gosto de te ver deitado de costas
(numa nudez abandonada e única)
e os meus olhos são
(como manhãs de domingo)
as pequenas flores do jasmim que estremece lá fora, na urgência da água.
Estás deitado, de costas. Nu como mais ninguém está nu
(líquido)
e os meus dedos são
(dias perfeitos)
a única parte do teu corpo que te pertence. A curva das tuas nádegas
(uma banheira onde flutuam os meus cabelos)
o lugar onde se encontra o sentido das árvores vagarosas
(ainda o verão)
Há uma janela aberta. Os teus poros nascem do cheiro do vento. Ao longe o mar. As camélias. Os meus cabelos que dançam devagar
(as tuas mãos, arados a devolver-me a possibilidade do fruto).
Há uma janela aberta, ouve-se a água na banheira. O movimento perfeito dos teus dedos como pequenas árvores
(ou as pétalas das camélias)
nuas na minha pele. Lá fora cresce o mundo. Na varanda o mar imensa-se. Levantas-te
(gosto de te ver nu, quando te levantas)
e baixas as persianas, como quem fecha os olhos e vive. E a tua barriga
(dias perfeitos)
é o lugar onde o sol se recolhe e adormece. Lá fora adensa-se o cheiro da noite
(não há camélias azuis, anuncias-me)
e saem as estrelas dos teus olhos. Nuas, como se entrassem na água com que regas o meu corpo
(as pequenas flores brancas do jasmim a flutuar na banheira).
A parte mais alta do teu rosto ilumina os lençois e há reflexos líquidos nas curvas do meu corpo
(estou deitada. Branca e nua, com a lua que agora estende os braços).
Gosto de te ver nu. Como se fosses água no verão
(semeia-me)
e de tão líquido as tuas mãos dissolvem-me. Revolves a minha pele, como as velhas charruas a espera da terra
(devagar)
e depois choves em mim, torrencial, como num grande deserto expectante e eu
(ainda cheia da nossa sede, já morta)
digo o teu nome
(o verão, ainda),
e depois floresço, como as camélias. E é quando tu me olhas por entre as estrelas que flutuam nos teus olhos
(gosto de te ver assim, tão nu)
que eu me descubro
(azul).
(numa nudez única e líquida)
numa maciez dispensada do tacto. Gosto de te ver
(deitado de costas)
o pescoço, onde os dias são perfeitos, o mundo a começar onde os teus cabelos nascem, as tuas nádegas desenhadas como na água, nos lençois
(o verão, ainda).
O cheiro das camélias, se é de noite, a encher-te as costas. As plantas dos teus pés, sossegadas, como raízes. A música a desprender-se da curva da tua cintura. As mãos assentes debaixo da cabeça e os teus dedos, compridos como pequenas árvores
(a sombra das tuas pestanas a espalhar-se como o cheiro das camélias).
Gosto de te ver deitado de costas
(numa nudez abandonada e única)
e os meus olhos são
(como manhãs de domingo)
as pequenas flores do jasmim que estremece lá fora, na urgência da água.
Estás deitado, de costas. Nu como mais ninguém está nu
(líquido)
e os meus dedos são
(dias perfeitos)
a única parte do teu corpo que te pertence. A curva das tuas nádegas
(uma banheira onde flutuam os meus cabelos)
o lugar onde se encontra o sentido das árvores vagarosas
(ainda o verão)
Há uma janela aberta. Os teus poros nascem do cheiro do vento. Ao longe o mar. As camélias. Os meus cabelos que dançam devagar
(as tuas mãos, arados a devolver-me a possibilidade do fruto).
Há uma janela aberta, ouve-se a água na banheira. O movimento perfeito dos teus dedos como pequenas árvores
(ou as pétalas das camélias)
nuas na minha pele. Lá fora cresce o mundo. Na varanda o mar imensa-se. Levantas-te
(gosto de te ver nu, quando te levantas)
e baixas as persianas, como quem fecha os olhos e vive. E a tua barriga
(dias perfeitos)
é o lugar onde o sol se recolhe e adormece. Lá fora adensa-se o cheiro da noite
(não há camélias azuis, anuncias-me)
e saem as estrelas dos teus olhos. Nuas, como se entrassem na água com que regas o meu corpo
(as pequenas flores brancas do jasmim a flutuar na banheira).
A parte mais alta do teu rosto ilumina os lençois e há reflexos líquidos nas curvas do meu corpo
(estou deitada. Branca e nua, com a lua que agora estende os braços).
Gosto de te ver nu. Como se fosses água no verão
(semeia-me)
e de tão líquido as tuas mãos dissolvem-me. Revolves a minha pele, como as velhas charruas a espera da terra
(devagar)
e depois choves em mim, torrencial, como num grande deserto expectante e eu
(ainda cheia da nossa sede, já morta)
digo o teu nome
(o verão, ainda),
e depois floresço, como as camélias. E é quando tu me olhas por entre as estrelas que flutuam nos teus olhos
(gosto de te ver assim, tão nu)
que eu me descubro
(azul).
7 Comments:
!
Deixas-me quase sem palavras. Este texto é tocante, muito, muito belo. Estás mesmo de parabéns por criares tanta beleza nas tuas palavras. Fiquei quase gago. Tu sabes fazer sentir.
!?
então, Alexandre? Sentiste o cheiro das camélias, como me disse a Blah, foi?
Os parabéns não aceito. Porquê? Ora esta!
Bjo
Eu gostava que tivesses sentido o cheiro das camélias... era sobretudo o que eu queria dizer, no comentário anterior. :-)
Gosto da tua escrita, Elisa. Já te tinha dito? Dos teus textos transpira uma espontaneidade pouco comum. Atrever-me-ia a dizer que escreves, cada um deles, de uma assentada, sem sequer o releres. Daí o sentimento de coisa a cheirar a nova, inocente, verdadeira, acabadinha de nascer e sem direito a revisão, restruturação ou, sequer, uma pequena emenda.
Pode não ser nada assim, mas é isto que sinto e gosto de pensar que é desta forma que escreves.
Bjo.
Maria, acho que sim... que já tinhas dito. E eu agradeço. E sim... é verdade que é quase às golfadas que os textos saem, sem revisões e sem releituras (bom, mais tarde releio e... hum...).
Beijo
Cheguei aqui por acaso e fico feliz de te Ler (ainda bem que regressas). Sabes (claro, que sabes) que a tua escrita lembra o Lobo Antunes ? . De resto tudo é diferente (a tua escrita). Gostei muito e voltarei. Bjs
Guilherme
Obrigada por te ter feito feliz, ao leres-me. O Lobo Antunes era capaz de ficar chateado com semelhante comparação mas... sim, a forma é de um modo desajeitado, parecida.
Volta sempre
bjo
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