4º Regresso (ou de como o amor é uma coisa rara. Rara, como em esquisito)
Houve uma altura, Luísa, em que me encontrei
(de tão perdido que estava)
capaz de morrer por ti. E teria morrido, Luísa
(se)
não fosse a certeza que, em morrendo, deixaria de te ver. Não suportava a ideia de deixar de olhar para ti, Luísa. Tenho a agradecer-te
(imagina)
a vontade que tinha de morrer
(e não morrer).
Tudo por ti.
Lembro-me bem de quando te conheci. Era inverno. Estava frio. Tinhas umas calças cinzento escuro e uma camisola de gola alta castanho chocolate e um sobretudo grosso, também cinzento, quase da cor das calças. E tinhas esses olhos tão verdes, Luísa. E essa boca
(e a camisola, foi quando tiraste o casaco que vi, era de manga curta. Da cor do chocolate)
que me apeteceu beijar, mal te vi. Morrer por essa boca. E não morrer nunca, para beijar a tua boca
(para sempre).
Quando te vi, Luísa. As coisas ficaram suspensas e só os teus olhos viviam. Não sei se te amei logo. O amor é uma coisa rara. Tão rara, como em esquisito. Por isso, se calhar foi logo ali que comecei a amar-te e a ter vontade de morrer
(e não morrer nunca)
por ti.
E os teus olhos diziam-me que também estavas capaz de entrar vertiginosamente no abismo
(raro, como em esquisito)
que, mal te vi, se abriu ali mesmo, debaixo dos nossos pés
(para que caíssemos).
E a tua boca
(essa boca)
dizia o contrário. Ou nada disto. Acho que nada disto. Porque nada disto era possível ser dito, assim, mal nos conhecemos. E, portanto, a tua boca
(essa boca)
dizia outra coisa qualquer, mais a propósito
(menos).
Luísa, o amor. O amor Luísa. Essa rara e estranha coisa que sentimos. Ainda te lembrarás, Luísa? Dessa coisa esquisita que fez com que me olhasses assim
(como se fosse a primeira vez que vias).
Desse estranho olhar que nos lançámos. Um olhar como nunca mais vi em ninguém. Porque não nos olhávamos. Estávamos dentro dos olhos um do outro. Exactamente dentro. De modo que os teus olhos verdes eram os meus olhos castanhos e estavas em mim. E os meus olhos castanhos não eram os meus olhos castanhos
(mas os teus olhos verdes)
e eu estava em ti. Todas as coisas estavam ali. O universo inteiro nos nossos olhos assim trocados, Luísa.
E a tua boca
(essa tua boca que foi tão minha, depois e sempre, tão minha como se tivesse nascido comigo)
dizia coisas mais a propósito. Coisas que sinceramente não recordo. E o tom da tua voz dizia coisas de que
(sim, dessas sim)
me recordo perfeitamente. Como se tivesse sido agora há pouco que saímos os dois. E eu te comprei um ramo de malmequeres
(amarelos. Não podia ser, para ti, mais nenhuma cor)
e abalámos, de olhos trocados, para a praia. Era Inverno. Estava frio. Luísa, ainda te lembras? De termos ficado na praia a dizer coisas
(mais a propósito)
e tu a arrancares, e a desejar que eu não visse, as pétalas aos malmequeres?
E depois, Luísa, quando a noite chegou, como chega sempre no Inverno, cedo demais e eu deixei de ver os teus olhos e tive que beijar a tua boca e tu
(mais a propósito)
me recusaste porque
(porque me recusaste, Luísa?)
tinhas frio e tinhas medo e tinhas culpa e tinhas-me a mim
(se me quisesses)
ali perdido a querer morrer
(e a não querer morrer)
por ti. A querer morrer por essa boca. Tão cheia. Tão cheia que parecia ter sido feita apenas para ser comida. Comida não
(lambida, chupada com força, devorada),
beijada como se fosse a primeira vez que vias.
E a porcaria da praia, a porcaria do mar. E a porcaria das estrelas. Tudo a gritar que morresse. Mas só depois de beijar a tua boca
(essa boca).
E tu a recusares-me, Luísa. Porque tinhas frio, porque tinhas medo, porque tinhas culpa e tinhas-me a mim se me quisesses.
E eu então disse-te
(menos a propósito)
ainda por cima, a porcaria da praia, a porcaria do mar, a porcaria das estrelas.
(de tão perdido que estava)
capaz de morrer por ti. E teria morrido, Luísa
(se)
não fosse a certeza que, em morrendo, deixaria de te ver. Não suportava a ideia de deixar de olhar para ti, Luísa. Tenho a agradecer-te
(imagina)
a vontade que tinha de morrer
(e não morrer).
Tudo por ti.
Lembro-me bem de quando te conheci. Era inverno. Estava frio. Tinhas umas calças cinzento escuro e uma camisola de gola alta castanho chocolate e um sobretudo grosso, também cinzento, quase da cor das calças. E tinhas esses olhos tão verdes, Luísa. E essa boca
(e a camisola, foi quando tiraste o casaco que vi, era de manga curta. Da cor do chocolate)
que me apeteceu beijar, mal te vi. Morrer por essa boca. E não morrer nunca, para beijar a tua boca
(para sempre).
Quando te vi, Luísa. As coisas ficaram suspensas e só os teus olhos viviam. Não sei se te amei logo. O amor é uma coisa rara. Tão rara, como em esquisito. Por isso, se calhar foi logo ali que comecei a amar-te e a ter vontade de morrer
(e não morrer nunca)
por ti.
E os teus olhos diziam-me que também estavas capaz de entrar vertiginosamente no abismo
(raro, como em esquisito)
que, mal te vi, se abriu ali mesmo, debaixo dos nossos pés
(para que caíssemos).
E a tua boca
(essa boca)
dizia o contrário. Ou nada disto. Acho que nada disto. Porque nada disto era possível ser dito, assim, mal nos conhecemos. E, portanto, a tua boca
(essa boca)
dizia outra coisa qualquer, mais a propósito
(menos).
Luísa, o amor. O amor Luísa. Essa rara e estranha coisa que sentimos. Ainda te lembrarás, Luísa? Dessa coisa esquisita que fez com que me olhasses assim
(como se fosse a primeira vez que vias).
Desse estranho olhar que nos lançámos. Um olhar como nunca mais vi em ninguém. Porque não nos olhávamos. Estávamos dentro dos olhos um do outro. Exactamente dentro. De modo que os teus olhos verdes eram os meus olhos castanhos e estavas em mim. E os meus olhos castanhos não eram os meus olhos castanhos
(mas os teus olhos verdes)
e eu estava em ti. Todas as coisas estavam ali. O universo inteiro nos nossos olhos assim trocados, Luísa.
E a tua boca
(essa tua boca que foi tão minha, depois e sempre, tão minha como se tivesse nascido comigo)
dizia coisas mais a propósito. Coisas que sinceramente não recordo. E o tom da tua voz dizia coisas de que
(sim, dessas sim)
me recordo perfeitamente. Como se tivesse sido agora há pouco que saímos os dois. E eu te comprei um ramo de malmequeres
(amarelos. Não podia ser, para ti, mais nenhuma cor)
e abalámos, de olhos trocados, para a praia. Era Inverno. Estava frio. Luísa, ainda te lembras? De termos ficado na praia a dizer coisas
(mais a propósito)
e tu a arrancares, e a desejar que eu não visse, as pétalas aos malmequeres?
E depois, Luísa, quando a noite chegou, como chega sempre no Inverno, cedo demais e eu deixei de ver os teus olhos e tive que beijar a tua boca e tu
(mais a propósito)
me recusaste porque
(porque me recusaste, Luísa?)
tinhas frio e tinhas medo e tinhas culpa e tinhas-me a mim
(se me quisesses)
ali perdido a querer morrer
(e a não querer morrer)
por ti. A querer morrer por essa boca. Tão cheia. Tão cheia que parecia ter sido feita apenas para ser comida. Comida não
(lambida, chupada com força, devorada),
beijada como se fosse a primeira vez que vias.
E a porcaria da praia, a porcaria do mar. E a porcaria das estrelas. Tudo a gritar que morresse. Mas só depois de beijar a tua boca
(essa boca).
E tu a recusares-me, Luísa. Porque tinhas frio, porque tinhas medo, porque tinhas culpa e tinhas-me a mim se me quisesses.
E eu então disse-te
(menos a propósito)
ainda por cima, a porcaria da praia, a porcaria do mar, a porcaria das estrelas.
E comecei a chorar. De raiva, de desejo, de dor, de mágoa, de amor
(uma coisa rara).
E então tu puseste de lado os malmequeres, meio desfolhados.
(Mal.me.quer)
(bem.me.quer)
e agarraste-me na cara com as tuas duas mãos
(as tuas duas mãos tão raras)
e beijaste-me. Na boca
(na minha pobre boca de lábios finos),
como se fosse a primeira vez que vias. E eu de tão perdido que estava
(encontrei-me)
a querer morrer. E a não querer morrer. De amor. Por ti, Luísa. Pelo menos a querer e a não querer morrer, até que a tua boca deixasse de ter nascido comigo. A desejar que a tua boca fosse assim a minha
(para sempre).
E foi. E hoje sento-me na mesma praia Luísa. E penso em como o amor é uma coisa rara. Em como o amor nos faz querer morrer
(e não morrer)
só por um beijo. Hoje sento-me na mesma praia e não maldigo o mar nem as estrelas. Nem os convoco. Hoje sento-me aqui. E penso se ainda te lembras, Luísa, ou se já te esqueceste do primeiro dia em que nos vimos
(como se fosse a primeira vez que víamos)
e nos quisemos bem. Sento-me aqui para me lembrar de ti. Para perceber onde foi que deixaste de trocar os olhos comigo. Onde começaste a impedir que os meus te vissem. Onde foi que
(bem.me.quer)
(mal.me.quer)
deixaste de me querer. E aos meus lábios finos. Onde foi, Luísa? Quando eu, aqui sentado, continuo à procura de mim no fundo dos teus olhos
(que já não vejo),
continuo à procura da tua boca para matar a fome. Continuo a encontrar-me
(por vezes)
tão perdido e capaz de morrer
(e não morrer)
por ti. Aqui sentado, com a praia, o mar e as estrelas. E tenho frio e tenho medo e tenho culpa e não te tenho. E tenho essa coisa, rara, o amor
(rara, como em esquisito).
9 Comments:
Já vi. Um livro de destroços então. Porque terás de andar à volta de destroços. A melhor coisa é ignorá-los. Eles voltarão, de qualquer forma, mesmo sem serem invocados. Um livro feliz, escreve.
Tu és supreendente, rapariga! Retiro o que disse noutro sítio: tu não és "bad, mad and dangerous to know". Nem safada, evidentemente.
Abraço.
Esquece o meu comentário de há alguns minutos. Foi tolo (como eu sou, por vezes). O que eu queria dizer, e acabei por brincar com algo sério, é que fiquei surpreendido (não é o termo correcto, mas não me ocorre outro melhor)com o que li aqui.
O abraço mantém-se.
Luís
e como posso?
Carlos
ó pá, deixa-me lá ser 'bad, mad (e sobretudo) dangerous to know'... gostei tanto dessa tirada. Vais tirar-ma agora?
És tolo por vezes e depois? Somos todos tolos às vezes.
Aceito o abraço e retribuo
Malditos intelectuais esquisitos! ;)
Dark kiss.
hum? Fui espreitar o teu site e achei-o ainda mais 'sinistro' que o meu, Klatuu... e ainda estou baralhada.
Gostei muito. Muito. De ler este texto.
Obrigada.
Silvia
de nada. :)
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