6º Destroço (ou como a guerra é um bicho cego. E estúpido. Profundamente estúpido)
Travamos estas guerras
(em qualquer palco),
tomando partidos como se fosse urgente saber
(de que lado estamos)
o verdadeiro peso de quem morre. Como se fosse urgente e necessário esclarecermos onde nos encontramos diante da cegueira da guerra
(que travamos)
e dos corpos que caem em nome de deus, do diabo ou de outra coisa qualquer.
(Quando)
A guerra é um bicho cego. E estúpido
(profundamente)
e os mortos têm sempre peso e substância e significado e sentido independentemente de quem os mata. Em cada guerra
(que travamos)
há a cegueira e a estupidez de sermos todos humanos
(e tão pequenos)
e de não termos olhos porque as maneiras de ver são infinitas. E então os nossos olhos estão cegos dos nossos e os olhos dos outros cegos dos outros. E entretanto matamos
(para não morrermos)
em nome de um deus, de um diabo ou de outra coisa qualquer. Matamos para nos defendermos dos olhares
(cegos, como os nossos)
que nos lançam os outros. E morremos
(para não matarmos)
de uma infinita certeza de que estamos
(certos)
a morrer pela verdade
(cegos).
E de outras vezes morremos sem saber
(porque morremos)
quem nos matou. Ou de que foi que tombámos e ali ficámos a auscultar a terra e a cheirar-lhe as entranhas confundidas com o sangue
(o nosso)
à espera que a erva cresça como antes de estarmos cegos
(do olhar dos outros)
de tantas maneiras de ver
(os nossos)
A guerra é um bicho estúpido
(profundamente)
que se alimenta de si mesmo. Que se vai devorando lentamente porque é urgente
(necessário)
pesar os mortos. Contar destroços. Alimentar a cegueira. Tomar partido pela verdade
(é claro),
porque se não somos como eles, seremos sempre contra eles
(há outras maneiras de ver?).
E esta é a perpétua cegueira em que nos movimentamos em direcção
(aos outros)
à terra prometida onde seremos todos
(nós)
felizes. E bons. E continuaremos cegos. E profundamente
(estúpidos)
certos que os que fazemos tombar não somos nós.
(em qualquer palco),
tomando partidos como se fosse urgente saber
(de que lado estamos)
o verdadeiro peso de quem morre. Como se fosse urgente e necessário esclarecermos onde nos encontramos diante da cegueira da guerra
(que travamos)
e dos corpos que caem em nome de deus, do diabo ou de outra coisa qualquer.
(Quando)
A guerra é um bicho cego. E estúpido
(profundamente)
e os mortos têm sempre peso e substância e significado e sentido independentemente de quem os mata. Em cada guerra
(que travamos)
há a cegueira e a estupidez de sermos todos humanos
(e tão pequenos)
e de não termos olhos porque as maneiras de ver são infinitas. E então os nossos olhos estão cegos dos nossos e os olhos dos outros cegos dos outros. E entretanto matamos
(para não morrermos)
em nome de um deus, de um diabo ou de outra coisa qualquer. Matamos para nos defendermos dos olhares
(cegos, como os nossos)
que nos lançam os outros. E morremos
(para não matarmos)
de uma infinita certeza de que estamos
(certos)
a morrer pela verdade
(cegos).
E de outras vezes morremos sem saber
(porque morremos)
quem nos matou. Ou de que foi que tombámos e ali ficámos a auscultar a terra e a cheirar-lhe as entranhas confundidas com o sangue
(o nosso)
à espera que a erva cresça como antes de estarmos cegos
(do olhar dos outros)
de tantas maneiras de ver
(os nossos)
A guerra é um bicho estúpido
(profundamente)
que se alimenta de si mesmo. Que se vai devorando lentamente porque é urgente
(necessário)
pesar os mortos. Contar destroços. Alimentar a cegueira. Tomar partido pela verdade
(é claro),
porque se não somos como eles, seremos sempre contra eles
(há outras maneiras de ver?).
E esta é a perpétua cegueira em que nos movimentamos em direcção
(aos outros)
à terra prometida onde seremos todos
(nós)
felizes. E bons. E continuaremos cegos. E profundamente
(estúpidos)
certos que os que fazemos tombar não somos nós.
8 Comments:
É isso mesmo.
Muito bom o que escreveste. Lamentável apenas haver motivos para o fazer.
bjo
Muito bom, Elisa!
Bjo.
Isso mesmo, Vanessa... mas se pensarmos bem... há sempre motivos para escrever isto. O problema é que nos esqueçemos de tudo isto. Quem ainda se lembra da Bósnia? Do Afeganistão? Do Ruanda? Etc, etc, etc. Pois... além de cegos, temos a memória extremamente curta.
Beijos
Obrigada Maria.
Beijo
A falta de memória de nós, dos povos, é conveniente. A manipulação de "sentimentos" nacionalistas também. Tal como a criação do "outro" por oposição ao "nós".
Exactamente, Vanessa... e é sempre a mesma história. Já na criação do 'outro' por oposição a 'nós' isso é quase inato, por assim dizer... e tem aspectos positivos em alguns casos, como o reforço de uma identidade, de um sentido de pertença, etc... que nos faz, como colectivo, caminhar... mas é, simultaneamente perigoso. Nisto tudo, pelo menos o ocidente (no qual incluo Israel, por óbvias razões) devia saber melhor.
Pouco poderia acrescentar em relação à guerra e à cegueira. Só estou a comentar para te dizer (e assim ficas realmente a saber o quanto os meus comentários são sinceros) que não gostei de como escreveste este texto. Isto é, o tema em si não pedia o mesmo estilo dos que tens escrito - os intervalos nos parentesis e o silêncio das entrelinhas. É um texto crítico, e acho que se perde neste estilo, fica como que... desbotado, não encontro agora palavra melhor para definir. É curioso que escreveste sobre o mesmo no um dia a menos, e ali já gostei... Talvez porque este texto, ou o tema, esteja deslocado da temática deste blog? Não sei precisar, mas a verdade é que não gostei tanto...
Beijos
Alexandre
Eu sei que os teus comentários são sinceros. E agradeço-te... não a sinceridade, claro... mas a paciência que tens em ler-me. E tens toda a razão em relação a este texto. Nem o tema era para aqui, nem o estilo podia ser o mesmo. Encarei-o como um desabafo que me apetecia ter... também aqui... por causa da preocupação das pessoas em tomarem partidos. O comentário do Luís e a minha resposta no post de cima, têm exactamente a ver com isso e com o debate que andava pelo blog dele acerca disto mesmo.
Beijos
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