Wednesday, October 25, 2006

9º Assombro (ou um nome que me sirva. Como a chuva, por exemplo)

Quando chove as pessoas dizem: todas as coisas
(as coisas todas e tudo o que há nas coisas)
ficam tristes. E é sempre o meu nome que ouço
(o único que sei servir-me).
Quando chove com a vagarosa gravidade das coisas tristes
(todas)
é sempre o meu nome que cai nas gotas transparentes. Quando chove devagar há quase sempre um saxofone
(por exemplo)
que acompanha as gotas como se a melancolia invadisse as ruas por onde passam pessoas. E as casas, e a pele e os ossos delas. Porque quando chove
(um saxofone rouco)
todas as coisas ficam tristes. E os salpicos que as luzes transformam em água verdadeira mancham-nos a bainha das calças
(o bater do coração).
A chuva traz o meu nome
(o que me serve)
não sei de onde. E à pergunta que me fazem, não respondo
(não sei),
nunca sei como hão-de chamar-me os outros. Os que dizem quando chove as coisas ficam
(tristes)
molhadas. Não é nome que te sirva. E eu que só reconheço as gotas e as notas melancólicas
(por exemplo)
dos saxofones na chuva, eu, não respondo
(respondo sempre)
que não tenho
(outro)
nome que me sirva. Que todos os nomes que me deram não são meus
(nunca foram),
apesar de voltar sempre a cabeça ou chegar-me à beira da realidade como quem existe mesmo,
(mas não)
em nenhum dos nomes que me deram me encontro toda
(com a bainha do coração molhada)
como naquele que a chuva traz
(do fundo do inverno),
como naquele que a água me cola aos ossos, quando cai, anunciando
(um nome que me serve)
a tristeza que há nas coisas.

12 Comments:

Blogger José Alexandre Ramos said...

Olá, chuva. Queria dizer-te que continuo a gostar, mas sinto que tens de rever melhor os parêntesis. Alguns cortam o discurso, ou seja, há momentos em que os parentesis incomodam, noutros são agulhas que nos atiçam. Verifica. Beijos.

25/10/06 1:03 PM  
Blogger Elisa said...

Olá. Afinal sabes o meu nome :-)
Eu prefiro quando são agulhas. Para o resto preciso de ajuda. Podes?
Beijo

25/10/06 1:08 PM  
Blogger José Alexandre Ramos said...

ok. vou reconstruir o texto e tu depois avalias. dig?

28/10/06 9:38 AM  
Blogger Elisa said...

Está bem... é um bocadito batatota... mas depois se vê... quando tiveres tempo.
Beijo

28/10/06 2:32 PM  
Blogger prologo said...

Primeiro salto os parêntesis com a pressa de perceber. Depois (um pouco ao acaso) pergunto a um deles o que faz ali. Diz-me que quer explicar. Nesse dia não me apetecem explicações e por isso volto (noutro dia). Primeiro leio os parêntesis e fico com explicações (para questões que não tenho). Depois leio o que fica e fico com a leitura a meio porque há explicações que não explicam. Volto noutro dia e vejo que ainda tenho outras hipóteses (de leitura). Muitas leituras para uma coisa que se quer clara (ou não). E ainda não li as explicações todas. É assim que eu gosto das palavras: difusas o suficiente para podermos voltar a elas e continuar o prazer.

31/10/06 11:05 AM  
Blogger Susana Miguel said...

Gostei muito deste texto e é doce o nome Elisa.
Soa bem com a chuva e com o peso das coisas tristes.

Um abraço.

31/10/06 1:20 PM  
Blogger Josué said...

:)

31/10/06 3:02 PM  
Anonymous Anonymous said...

Com todo o respeito ao prévio comentário, lhe imploro Elisa, não troque uma vírgula, um parêntesis, um ponto final...nada...absolutamente nada. Os seus textos são absolutas inspirações . Atingem-nos de uma maneira que nos suspende a respiração, tal como as cordas do mais virtuoso solo de um violino....


I was feeling very brave! I must practice my portuguese and restore my confidence!

Beijo,

M.

31/10/06 6:12 PM  
Blogger Elisa said...

Prologo, obrigada. Eu não sei sobre o que escrevo, por isso é bem provável que todas as palavras continuem difusas, por aqui. Não sei se os parêntesis explicam, nem sei sequer se quando os uso, para que os uso eu.

1/11/06 5:42 PM  
Blogger Elisa said...

Aida
Elisa é um short name. Tenho pena de não me chamar mesmo mesmo Elisa, esse doce nome que combina com a chuva (mas nem sempre comigo)
Beijo

1/11/06 5:43 PM  
Blogger Elisa said...

anião
:-))

1/11/06 5:44 PM  
Blogger Elisa said...

M.
:-) que palavras tão bonitas... Mas eu respeito a opinião e a ajuda do Alexandre. São coisas pequenas, que fazem alguma diferença... que alteram um pouco apenas o que saiu em catadupa.
Fico muito contente que se sinta bem quando escreve em português... e já agora, escreve-o muito bem, não precisa de ter problemas de confiança :-). But you are truly brave... and not because of that :-)
Beijo

1/11/06 5:47 PM  

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